Diário de Notícias de 12 de Janeiro de 1917
“(...) Museu, que é muito simples nas suas linhas, um tanto panteão, mas cuja fúnebre severidade foi delicadamente amenizada. É bem um momento para se prestar culto à memória daquele que, como ninguém, soube cantar as crianças, as flores e os desgraçados. Tem simplicidade, tem graça e espiritualidade. Lá dentro, numa grande sala de conferências, cheia de luz, olhando para as recordações do poeta, uma ténue, comovida e religiosa saudade nos tolhe. Seu filho acompanha-nos na visita, e é com verdadeira devoção que nos evoca a memória do poeta, elucidando-nos sobre os objectos expostos nas estantes que existem em volta de toda a sala.
Por toda a parte desenhos e maquetas, alguns daqueles, de António Carneiro, são admiráveis. Lá está também a secretária de pau-santo em que o poeta escreveu nos últimos anos da sua vida. Em cima a Bíblia, desmantelada pelo muito que João de Deus a folheou e muito anotada, especialmente nos Provérbios de Salomão. Entre as maquetas há uma de Costa Mota, muito interessante, para o túmulo do poeta. Também do mesmo escultor se vê ali, sobre um pedestal, um busto de João de Deus, e de Moreira Rato duas maquetas para o monumento. Uma infinidade de pequenos nadas estão colocados nas estantes e em cima de secretária, admiráveis documentos da vida do poeta do saudoso poeta. Retratos seus há muitos e, entre eles, um de Columbano. Recordando a apoteose que lhe foi feita, estão sobre um móvel as pastas dos académicos. Além da sala há os compartimentos onde funciona a Associação das Escolas Móveis (...).